sábado, 10 de dezembro de 2016

O Presente de Natal

O Presente de Natal
adaptação de um conto de Jerôme e Jean Thauraud
por Frei Braz scj
 
Foi em Belém, ao despontar da aurora. A estrela acabava de se desvanecer, o último peregrino havia deixado o estábulo, a Virgem tinha acomodado a palha, o Menino ia dormir, enfim. Mas dorme alguém na noite de Natal!? Entretanto, suavemente, a porta abre-se, empurrada, dir-se-ia mais por um sopro que por uma mão, e uma mulher, coberta de farrapos, aparece na soleira, tão velha, tão enrugada que, no seu rosto cor de terra, a boca dir-se-ia não mais que uma ruga.
Ao vê-la, Maria estremece, como se se tratasse de alguma fada agoirenta que entrasse. Felizmente, Jesus dorme! O burrinho e o boi ruminam pachorrentamente a sua palha e vêem avançar a estrangeira sem manifestar espanto algum como se de há muito a já conhecessem. A Virgem, por sua vez, não desvia dela o olhar. Cada passo que dá parece-lhe longo como uma eternidade.
A velha avança, ei-la já à beira da manjedoura. Graças a Deus, Jesus continua adormecido. Mas dorme alguém na noite de Natal!?
Eis senão quando, abrem-se as pálpebras do Infante, e sua mãe constata, admirada, que os olhos da mulher e os do seu Menino são exatamente idênticos; mais, brilham com a mesma esperança.
A velha debruça-se então sobre a palha, enquanto que a sua mão procura na confusão dos farrapos qualquer coisa que parece levar séculos a encontrar. Maria observava-a continuamente e sempre com a mesma inquietude. Os animais também a olham, mas em nada surpreendidos, como se soubessem antecipadamente o que iria acontecer.
Finalmente, ao fim de um bom momento, a velha acaba por retirar dos seus trapos um objeto escondido na mão, que entrega ao Menino.
Depois de todos os tesouros dos magos e das oferendas dos pastores, que poderia bem ser esse presente? De onde está, Maria não o pode ver. Ela vislumbra unicamente o dorso da velha curvado pela idade, e que mais ainda se curva ao debruçar-se sobre o berço. Mas o burrinho e o boi, esses, vêem-no e nem por isso demonstram a mínima admiração.
E aquilo dura ainda tanto tempo. Enfim, a velha reergue-se, como que aliviada do enorme fardo que a puxava para a terra. Os seus ombros já não estão curvados, a sua cabeça quase toca o colmo, o seu rosto reencontra milagrosamente a juventude. E quando ela se afasta do berço para retomar a porta e desaparecer na noite donde tinha vindo, Maria pode ver, enfim, o que era o seu misterioso presente.
Eva, que outra não era, acabara de entregar ao Menino uma pequena maçã, a maçã do primeiro pecado e de tantos outros que se lhe seguiram! E a pequena maçã escarlate brilha agora nas mãos do recém-nascido como o globo do mundo novo que acaba de nascer com ele.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Ciclo de Natal





O Ciclo do Natal
- Apresentação Powerpoint (ao clique) -
Notas complementares a cada diapositivo

1. O povo que andava nas trevas viu uma grande luz (Iz 9,1). Tópicos para compreensão da diâmica da Liturgia do Ciclo de Natal.
2.         No ciclo do ano, a Igreja comemora todo o mistério de Cristo, desde a Encarnação até ao dia do Pentecostes e à expectativa da vinda do Senhor (Normas gerais sobre o ano Litúrgico e o Calendário 17).
3.         O Sagrado Tríduo da Paixão e Ressurreição do Senhor é o ponto culminante de todo o ano litúrgico (Normas gerais sobre o ano Litúrgico e o Calendário, 18).
4.         Missal Romano, Oração Eucarística, Aclamação:
Ø  Mistério da fé! - Anunciamos, Senhor, a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus.
Ø  Mistério admirável da nossa fé! - Quando comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte, esperando a vossa vinda gloriosa.
Ø  Mistério da fé para a salvação do mundo! – Glória a Vós, que morrestes na Cruz e agora viveis para sempre. Salvador do mundo, salvai-nos. Vinde, Senhor Jesus!
5.         Visão geral do Calendário Litúrgico
6.         Depois da celebração anual do Mistério Pascal, nada na Igreja é mais venerável do que a celebração do Natal do Senhor e das suas primeiras manifestações: é o que se faz no Tempo do Natal (Normas Gerais sobre o ano Litúrgico e o Calendário 32).
7.         Assim como as celebrações pascais são precedidas de um tempo de preparação, a Quaresma, também o Tempo do Natal é precedido pelo Tempo do Advento.
8.         Ciclo do Natal: composto de dois tempos
Ø  I. Advento
Ø  II. Natal
9.         I. Tempo do Advent  = adventus / ad venire (vinda)
Chegada do príncipe: Preparai os caminhos do Senhor
10.     O Tempo do Advento tem dupla característica:
          É tempo de preparação para a Solenidade do Natal, em que se comemora a primeira vinda do               Filho de Deus aos homens;
          Foi Ele que os Profetas anunciaram,
          a Virgem Mãe esperou…
          João Baptista proclamou estar para vir
          e mostrou já presente no meio dos homens.
             (Prefácio II entre 17e 24 de Dezembro)
10. Simultaneamente é tempo em que, comemorando esta primeira vinda, o nosso espírito se dirige para a expectativa da segunda vinda de Cristo no fim dos tempos.
Ele veio a primeira vez, na humildade da natureza humana…
abrir-nos o caminho da salvação
De novo há-de vir, no esplendor da sua glória,
para nos dar os bens prometidos
que, entretanto, vigilantes na fé, ousamos esperar…
(Prefácio I - até 16 de Dezembro)
11. 1ª vinda - Já veio: Celebração do Natal
      2ª vinda: Há-de vir: Cristo Rei
      Entre as duas:  Está presente: Igreja / Sacramentos
12.   Até 16 de Dezembro: Preparação da vinda futura: o fim dos tempos.
Domingos do ano A
Ø  1: Cristo virá na Sua glória
Ø  2 e 3: João Baptista anuncia-O
13.   De 17 a 24 de Dezembro: Preparação imediata à celebração do Nascimento.
Domingos do Ano A: 4: O nascimento de Jesus, filho de Maria noiva de José.
14.   O Tempo do Advento começa com as Vésperas I do domingo que ocorre no dia 30 de Novembro, ou no mais próximo a este dia e termina antes das Vésperas I do Natal do Senhor.
(Normas gerais sobre o ano Litúrgico e o Calendário, 40)
15.   Antífonas da Novena de Natal: Os grandes “O” 17 a 23 de Dezembro. Há divergência na ordem de apresentação destas antífonas entre a Liturgia da Palavra da Eucaristia (aclamação do Evangelho) e a Liturgia das Horas (antífona do Magnificat) que se apresenta assim:
Dia 17: Ó Sabedoria do Altíssimo, que tudo governais com firmeza e suavidade: vinde ensinar-nos o caminho da salvação
Dia 18: Ó Chefe da casa de Israel, que no Sinai destes a Lei a Moisés: vinde resgatar-nos com o poder do vosso braço.
Dia 19: Ó Rebento da raiz de Jessé, sinal erguido diante dos povos: vinde libertar-nos, não tardeis mais.
Dia 20: Ó Chave da Casa de David, que abris e ninguém pode fechar, fechais e ninguém pode abrir: vinde libertar os que vivem no cativeiro das trevas e nas sombras da morte.
Dia 21: Ó Sol nascente, esplendor da luz eterna e sol de justiça: vinde iluminar os que vivem nas trevas e na sombra da morte.
Dia 22: Ó Rei das nações e Pedra angular da Igreja vinde salvar o homem que formastes do pó da terra.
Dia 23: Ó Emanuel, nosso rei e legislador, esperança nas nações e salvador do mundo: vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus.
16.   As grandes Figuras do Advento
17.   João Baptista, o Precursor: Preparai os caminhos do Senhor. (João = Deus é misericordioso; Baptista = que baptiza).
18.   José, o homem do silêncio (José = Deus multiplica).
19.         Maria, a Mãe Virgem antes do parto, durante o parto, depois do parto: Fiat! – Faça-se! (Maria = Senhora soberana; Luz sobre o mar = Estrela do mar).
20.   Jesus = Deus Salva. Emanuel = Deus-habita-no-meio-de-nós.
21.   Particularidades da Liturgia no Tempo do Advento:
Ø  Paramentos roxos (3º domingo = pode ser cor-de-rosa),
Ø  Não se canta/recita o hino Glória, excepto nas solenidades (Imaculada Conceição a 8 de Dezembro, por exemplo).
Ø  Decoração mais discreta.
22.   A Coroa do Advento – não pertencendo à tradição litúrgica, pode utilizar-se como elemento catequético.
23.   A Coroa do Advento é feita de ramos verdes, com 4 velas, representando as 4 semanas do Advento. Em geral, três das velas são roxas e uma é cor-de-rosa (3º domingo “Gaudete” = alegrai-vos). A coroa tem normalmente uma fita vermelha entrelaçada e pode, igualmente, ter alguns detalhes dourados em representação da glória do Reino que vem.
25. Coroa: em forma de círculo sem princípio nem fim, indica a perfeição. É sinal do Amor de Deus, mas também do amor ao próximo que não há-de findar. O tempo cristão, todavia, não está fechado num “ciclo do eterno retorno”, mas é vivido em elipse projectada na eternidade. Pode ver-se também no círculo um elo, como invocação da Aliança entre Deus e o homem.
26. Ramos verdes: indicam a vida e a esperança: Os ramos dos pinheiros e dos ciprestes foram os escolhidos, pois permanecem verdes apesar dos rigorosos invernos. Também os cristãos devem manter vivas a fé e a esperança apesar das tribulações da vida.
27. Fita vermelha: que pode envolver a grinalda, simboliza o Amor de Deus ou o próprio Espírito Santo a embalar toda criação que é remida com a chegada de Jesus. Também se podem usar 4 laços vermelhos, significando os quatro pontos cardeais, como anúncio da Cruz Redentora (a estrela do Natal é cruciforme, remetendo-nos para a Páscoa). Pode ainda ver-se o azevinho com as suas folhas espinhosas e os seus grãos vermelhos, como invocação da Paixão Redentora.
28. Bolas ou pinhas douradas: simbolizam os frutos do Espírito Santo. Flores: significam a alegria na esperança.
Luz crescendo progressivamente: indica a aproximação ao Natal, e anuncia, desde logo, a Parusia de que o Advento é antecipação, quando Cristo, Salvador e Luz do Mundo, brilhar para toda a humanidade.
Cor roxa das velas: indica a purificação dos corações como preparação para acolher o Cristo que vem. A vela de cor rosa (3º domingo - Gaudete) convida à alegria, pois o Senhor está próximo.
29. Nota Bem: A coroa de advento não deve ser colocada sobre o altar e as velas em nada substituem os círios do altar, necessários às celebrações litúrgicas.
30. As 4 semanas:
1.    A promessa do perdão a Adão e Eva
2.    A fé dos Patriarcas na terra prometida
3.    A alegria do rei David que canta a Nova Aliança (cor-de-rosa)
4.    O Reino de Paz anunciado pelos Profetas
31. II. Tempo de Natal (Natalis = Nascimento)
32. Eucaristia: É sempre a celebração da Morte e Ressurreição de Cristo Jesus, Ele que nasceu em Belém.
33. Tradições do Advento e do Natal
34. Solstício de inverno
     Ø  Roma: 25 Dezembro - Nascimento do Sol Invicto
Ø  Egipto: 6 Janeiro - Epifania, Baptismo, Caná
35. 24 de Dezembro: Comemoração do “nascimento” de Adão e Eva e dos santos que viveram antes de Jesus Cristo.
25 de Dezembro: Comemoração do nascimento de Jesus Cristo, do seio virginal de Maria, a Nova Eva.
O NÃO de EVA, expulsa do Paraíso pelo Anjo, dá lugar ao AVE do Anjo que leva ao SIM de Maria.
36. Meia-noite: Quando um profundo silêncio envolvia todas as coisas, e a noite estava no meio do seu curso, a Vossa palavra omnipotente desceu dos céus e do trono real (Sabedoria 18,14).
37. Burro e Boi: O boi conhece o seu possuidor, e o jumento, o estábulo do seu dono; mas Israel não conhece nada, o Meu povo não tem entendimento (Isaías 1,3).
38. Pastores 1: Na mesma região, encontravam-se uns pastores, que pernoitavam nos campos, guardando os seus rebanhos durante a noite (Lucas 2,8).
Pastores 2: Eu sou o Bom Pastor (João 10,11).
39. Anjo: O anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor refulgiu em volta deles (Lucas 2,9). Anjos com asas: a Mensagem de Deus é para ser transmitida sem demora
40. Galo: No “meio da noite”. O canto do galo anuncia a chegada do dia: Jesus é o novo dia sem ter ocaso. Referência também à negação de Pedro na Paixão de Jesus.
41. Belém = Casa do Pão. O Verbo feito carne é o Pão vivo descido do céu para dar a vida ao mundo (João, 6).
42. E o Verbo feito carne, torna-se Pão (= a Imagem do Menino deitado numa máquina de fabricar hóstias com um travesseiro feito de espigas).
43. Magos > Sábios/Astrólogos – Reis???
Todos os reis se prostrarão diante dele, as nações o servirão (Salmo 72,11)
Século V: Nomes; Século XV: Origem
Ø  Baltazar » África
Ø  Melchior » Europa
Ø  Gaspar » Ásia
44. Três? - Chegaram a Jerusalém UNS MAGOS vindos do Oriente (Mateus 2,1).
45. As oferendas:
Ouro » realeza / Incenso » divindade / Mirra » humanidade.
46. O número três pode também ter relação com as Idades do Homem: Infância / Idade Adulta / Velhice.
47. Presépio = Manjedoura
Ano 1223: São Francisco de Assis representa o nascimento de Jesus num estábulo, com um boi e um jumento. Não há imagem do Menino, mas celebra-se a Eucaristia num altar montado no local.
48. Natal e Páscoa: A estrela de Natal normalmente tem quatro pontas, indicando os quatro pontos cardeais (norte, sul, este, oeste), ou mesmo 8, indicando a universalidade da Salvação realizada por Cristo. Por outro lado, tem uma forma cruciforme, fazendo ligação à Páscoa.
49. Na imagem, vê-se o Menino, despido, deitado por terra, enquanto Maria e José, em atitude de adoração, estão bem vestidos: é o novo Adão, unido à terra, na humildade e no despojamento.
50. A Sagrada Família dentro de uma gruta sombria: Jesus é a Luz do mundo que vem trazer brilho às trevas. E a Salvação realiza-se no mistério da morte, anunciada pelas faixas em que o menino está envolvido, como que para ser sepultado (na manjedoura, pode ver-se a forma de um caixão).
51. Maria parece voltar as costas ao Menino, isto porque Ela O deu à luz não para si mesma mas para o mundo. Está vestida de vermelho, pois é criatura mas tem um manto azul porque foi envolvida pela Graça de Deus. José, velho, indicando que está lá para “guardar” a virgindade de Maria, está vestido de vermelho, indicando também ele ser uma criatura.
52. Pai Natal - São Nicolau? Figura de criança, no início, foi nos Estados Unidos da América, no século XIX, que se tornou a figura que hoje conhecemos… para um anúncio da coca-cola de então!!!
53. ÁRVORE DE NATAL (pinheiro) – SS.ma Trindade (triângulo)
Árvore do Paraíso (Génesis, 2,9)
Árvore de Jessé (Isaías, 11,1-3)
Evangelho: Madeiro da Cruz (João 19,17)
Apocalipse: Árvore da Vida (Apocalipse 22,2)
54. O Tempo de Natal decorre desde as Vésperas I do Natal do Senhor até ao domingo depois da Epifania, isto é, até ao domingo a seguir ao dia 6 de Janeiro inclusive - Baptismo do Senhor (Normas Gerais do Calendário, 33).
55. Tempo do Natal:
Ø 25 de Dezembro » Natal
Ø 1 de Janeiro » Mãe de Deus
Ø Domingo seguinte » Epifania
Ø Domingo seguinte » Baptismo
Ø Se a Epifania cair a 7 ou 8 Janeiro celebra-se o Baptismo na 2ª-feira seguinte.
Ø Em lugar do Domingo I do Tempo Comum, celebra-se a Festa do Baptismo do Senhor.
56. TEOFANIA = Manifestação de Deus
Ø Natal: Manifestação aos pequeninos
Ø Epifania: Manifestação às nações
Ø Baptismo: Manifestação ao Povo Judeu
57. Particularidades da Liturgia do Natal
     Ø Gloria
Ø  Paramentos brancos
58. Celebrações ligadas ao Natal
Ø Anunciação 25 de Março - 9 meses antes do Natal
Ø Apresentação 2 de Fevereiro - 40 dias depois do Natal
59. O Ano litúrgico começa no quarto domingo antes do Natal, domingo a seguir à Solenidade de Jesus Cristo, Rei do universo com que termina o ano litúrgico.
60: Ato de oblação para o Tempo de Advento:
Pai Santo,
nós Te damos graças por Cristo, nosso Senhor.
Ele veio a primeira vez,
na humildade da natureza humana,
realizar o eterno desígnio do teu amor
e abrir-nos o caminho da salvação;
de novo há-de vir, no esplendor da sua glória,
para nos dar em plenitude os bens prometidos.
Entretanto, solidários com Ele
e partilhando as aspirações dos nossos contemporâneos,
queremos oferecer-nos totalmente
para colaborarmos na construção da cidade terrena
e na edificação do Corpo de Cristo,
testemunhando que o Reino e a sua justiça
devem ser procurados acima de tudo. Ámen.
61. Composição: Frei Braz, scj
      Sacerdotes do Coração de Jesus
      Seminário Nossa Senhora de Fátima, Alfragide, Novembro 2016

Escrito sem acordo ortográfico.